A Fé
A fé é o fundamento da esperança, uma certeza a respeito do que não se vê. (Hb 11, 1)
Ao iniciarmos nossa jornada de aprofundamento na doutrina católica, deparamo-nos com uma palavra fundamental, um conceito que é a porta de entrada para o mistério de Deus: a Fé. Mas o que é, de fato, a fé? Seria um sentimento vago, uma aposta no escuro ou um mero assentimento intelectual a um conjunto de regras? Para nós, católicos, a fé é infinitamente mais profunda. É a resposta do homem a Deus que Se revela.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que, pela fé, o homem submete completamente a sua inteligência e a sua vontade a Deus (CIC, 143). Trata-se de uma entrega, uma adesão de todo o nosso ser à verdade que Deus nos comunica. Não é uma fé em "algo", mas primordialmente em "Alguém". Como nos lembra o Catecismo,a fé é, antes de mais, uma adesão pessoal do homem a Deus (CIC, 150).
A Obediência da Fé
A Sagrada Escritura nos apresenta modelos insignes desta adesão. O primeiro e mais notável é Abraão. Deus o chama, pede que deixe sua terra, sua parentela, e promete-lhe uma descendência incontável. Diante do impossível aos olhos humanos, Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça (Gn 15, 6). Ele obedeceu na fé, confiando plenamente Naquele que lhe falava.
De modo ainda mais sublime, temos o exemplo da Santíssima Virgem Maria. No momento da Anunciação, diante da proposta de ser a Mãe do Salvador, ela entrega-se por completo à vontade divina com o seu fiat: Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra (Lc 1, 38). Maria encarna perfeitamente a obediência da fé, pois acreditou que se cumpriria o que lhe foi dito da parte do Senhor.
As Características da Fé
Para compreendê-la melhor, podemos elencar algumas de suas características essenciais, conforme nos ensina a Santa Igreja:
- A Fé é uma graça: Antes de tudo, a fé é um dom sobrenatural de Deus. Não podemos crer por nossas próprias forças. Para prestar esta fé, afirma o Catecismo, são necessários a graça prévia e adjuvante de Deus e os auxílios internos do Espírito Santo, que move o coração e o converte a Deus, abre os olhos do entendimento e dá "a todos a suavidade em consentir e crer na verdade" (CIC, 153).
- A Fé é um ato humano: Embora seja um dom, a fé não anula nossa liberdade. É um ato autenticamente humano, que exige nossa inteligência e nossa vontade. Crer é um ato da inteligência que, sob o comando da vontade movida por Deus, assente à verdade divina. Como ensina o Doutor Angélico, Santo Tomás de Aquino, crer é um ato do entendimento que adere à verdade divina, por império da vontade movida pela graça de Deus (Suma Teológica, II-II, q. 2, a. 9).
- Fé e Razão caminham juntas: A fé não é cega. Ela está acima da razão, mas jamais em contradição com ela, pois ambas procedem do mesmo Deus. A razão pode preparar o caminho para a fé e a fé ilumina a razão, permitindo-lhe alcançar verdades que, sozinha, não conseguiria. É o grande lema de Santo Agostinho: Crê para compreenderes (Crede, ut intelligas). A fé abre os olhos da alma para a verdadeira sabedoria.
- A Fé é o começo da Vida Eterna: Crer em Cristo e naquele que O enviou para nossa salvação nos faz provar, desde já, a alegria do Céu. A fé é o início daquela vida que não terá fim. Nas palavras de Santo Agostinho: A fé é acreditar no que não vemos; e a recompensa da fé é ver o que acreditamos.
Portanto, a fé que professamos não é um salto no vazio, mas um passo firme sobre a rocha que é a revelação de Deus, transmitida fielmente pela Sua Igreja. É um dom a ser pedido, uma virtude a ser praticada e um tesouro a ser guardado até o dia em que veremos, face a face, Aquele em quem pusemos a nossa confiança (cf. 2 Tm 1, 12).